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Ben Shakur
Traduzido por Damnus Vobiscum
Prólogo do tradutor
Não faço idéia se aquilo que diz a lenda narrada no início deste volume é verdadeiro
ou pura invencionice da pessoa que compilou tais passagens. O que sei é que, tendo lido O
Matrimônio do Céu e do Inferno de William Blake, não pude deixar de me surpreender
com a similaridade existente entre ambos. Diz Blake: ...segundo a versão do Demônio,
sucumbiu o Messias, formando um céu com o que roubara do Abismo. Isso revela o Evan-
gelho... não sendo outro o Jeová da Bíblia senão aquele que mora nas flamas flamantes.
Sabei que o Cristo, após sua morte, tornou-se Jeová. (Pergunto-me o que diria Nietzsche
se houvesse entrado em contato com tais conceitos... se tivesse nascido nesta era da infor-
mação, por certo aí reconheceria o ponto alto da sua transvaloração de todo os valores...)
O conteúdo do livro consiste em citações do Novo Testamento, pervertidas, diga-
mos assim, em seu sentido usual. Se realmente os papas sabiam do que hipoteticamente se
sugere, não é de estranhar que a Igreja Católica Romana tenha agido da forma como atuou
contra a inofensiva bruxaria e o paganismo, apropriando-se dos locais de culto dedicados a
outras divindades e adquirindo a fama terrível que ainda hoje a macula. As denúncias de
Lutero e outros dissidentes falam por si sós. Atualmente a Santíssima Madre Igreja conti-
nua a demonstrar intransigência diante de polêmicas questões como a do controle de nata-
lidade através dos métodos anticoncepcionais, só para citar um exemplo.
Blake aconselha a ler a Bíblia com outros olhos: Este Anjo, que se tornou um De-
mônio, é meu amigo íntimo, muitas vezes lemos juntos a Bíblia em seu sentido infernal ou
diabólico... É com tal espírito que O Livro de Lúcifer deve ser lido, evitando-se parecer
àquele que ...conversava com Anjos, que são todos religiosos, e não conversava com De-
mônios, que odeiam todos a religião, pois era incapaz por suas idéias preconcebidas (Bla-
ke, a respeito de Swedenborg). Creio que alguns ditos de Cristo, como Eu sou a luz do
mundo (Lúcifer é chamado O Portador da Luz ) e Certamente cedo venho (a estrela
matutina, identificada com Lúcifer, está lá pela manhã ou seja, cedo), além de inúmeros
outros, são dados por demais contundentes para serem simplesmente ignorados. E, para
finalizar, quem seria mais indicado para remir o pecado original senão aquele que arrastou
Adão à queda? O círculo se completa.
Quero ressaltar que não sou satanista, achando-me dissociado de qualquer credo
semelhante ou não. Apenas encontro-me, como a grande maioria das pessoas atualmente,
mergulhado num mar de dúvidas. Nada mais faço além de tentar me esclarecer. E se, escla-
recendo-me, puder esclarecer também outras pessoas, acredito estar praticando algo útil. A
mim pouca ou nenhuma importância existe em reabilitar o Diabo: afinal, não é de hoje que
afirmam não ser ele tão feio quanto pintam .
Damnus Vobiscum
07 de março de 2009
II
Introdução
Eis o Livro de Lúcifer, o qual afirmam foi escrito com sangue sobre pele humana.
A versão mais antiga deste livro parece ter sido feita na Roma pagã, por volta do
Séc. IV d.C.
As citações latinas originais precedem a tradução portuguesa em todos os capítulos.
Cuidado com a maldição de Lúcifer, que abre os capítulos deste livro!
Para que não venhas a sofrer as pragas contidas no Livro de Lúcifer se ousar acres-
centar uma única palavra a ele.
Luciferius et tu Dominus
Lúcifer é o nosso Senhor
III
A Lenda
Esta é a lenda do Livro de Lúcifer, que foi passada oralmente através dos tempos
por seus devotados discípulos.
A lenda diz que o livro foi originalmente escrito com sangue sobre pele humana.
A lenda diz que o livro foi escrito por um judeu chamado Ben Shakur.
A lenda diz que Ben Shakur viveu durante os reinados de Júlio César e Augusto.
A lenda diz que Ben Shakur tinha o poder de ressuscitar os mortos.
A lenda diz que Ben Shakur produziu inúmeros milagres enquanto viveu, graças ao
poder de Lúcifer.
A lenda diz que Ben Shakur deve retornar para reclamar as almas daqueles que tra-
balharem por Lúcifer e pelo livro.
A lenda diz que o livro foi traduzido para o latim pelo papa chamado Silvestre, na
época do concílio de Nicéia, no Séc. IV d.C.
A lenda diz que o livro continua a ser seguido ainda hoje nos altos círculos papais.
A lenda diz que o livro foi visto pela primeira vez por homens comuns quando uma
cópia foi obtida durante o saque a Roma pelos vândalos.
A lenda diz que o livro foi seguido através dos séculos por muitas seitas e socieda-
des secretas, como os templários e o Priorado de Sião.
A lenda diz que o livro confere grande poder a seus discípulos, e que homens como
Copérnico, Galileu, Nostradamus e Isaac Newton seguiram suas orientações.
A lenda diz que é necessário criar uma cópia do livro com o próprio sangue quando
se é eleito líder de umas das sociedades secretas que ainda seguem os ensinamentos nele
contidos.
A lenda diz que aquele que acrescentar uma única palavra ao livro será amaldiçoado
pelos poderes de Lúcifer, nele mencionados.
IV
Maledictum
Contestor ego omni audienti verba prophetiae libri
huius si quis adposuerit ad haec adponet Luciferius
super illum plagas scriptas in libro isto
Maldição
Que fique claro a todo homem que vier a ler as profecias contidas
neste livro: àquele que ousar adicionar palavras ao que foi escrito,
Lúcifer reserva todas as pragas nele mencionadas.
V
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