A Chave dos Grandes Mistérios - Autor Desconhecido.pdf

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A CHAVE DOS GRANDES
MISTÉRIOS
por
Eliphas Levi
A Chave dos Grandes Mistérios
De acordo com Henoch, Abraão,
Hermes Trismegisto e Salomão
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Eliphas Levi
Chave absoluta das ciências ocultas dada por
Guilherme de Postel e completado por Eliphas Levi.
A religião diz: Acreditai e compreendereis. A ciência vem vos dizer: Compreendei
e acreditareis. "Então, toda a ciência mudará de fisionomia; o espírito, por muito
tempo destronado e esquecido, retomará seu lugar; será demonstrado que as
tradições antigas são inteiramente verdadeiras; que o paganismo não passa de
um sistema de verdades corrompidas e deslocadas; que basta limpá-las, por
assim dizer, e recolocá-las em seu lugar, para vê-las brilhar com todo o esplendor.
Em uma palavra, todas as idéias mudarão; e, uma vez que, de todos os lados,
uma multidão de eleitos clama em concerto: "Vinde, Senhor, vinde!", por que
reprovaríeis os homens que se lançam nesse futuro majestoso e se glorificam de
adivinhá-lo?"
Joseph de Maistre,
Soirées de Saint-Pétersbourg
PREFÁCIO
Os espíritos humanos têm a vertigem do mistério. O mistério é o abismo que atrai,
sem cessar, nossa curiosidade inquieta por suas formidáveis profundezas.
O maior mistério do infinito é a existência de Aquele para quem e somente para
Ele - tudo é sem mistério.
Compreendendo o infinito, que é essencialmente incompreensível, ele próprio é o
mistério infinito e externamente insondável, ou seja, ele é, ao que tudo indica,
esse absurdo por excelência, em que acreditava Tertuliano.
Necessariamente absurdo, uma vez que a razão deve renunciar para sempre a
atingi-lo; necessariamente crível, uma vez que a ciência e a razão, longe de
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demonstrar que ele não é, são fatalmente levadas a deixar acreditar que ele é, e
elas próprias a adorá-lo de olhos fechados.
É que esse absurdo é a fonte infinita da razão, a luz brota eternamente das trevas
eternas, a ciência, essa Babel do espírito, pode torcer e sobrepor suas espirais
subindo sempre; ela poderá fazer oscilar a Terra, nunca tocará o céu.
Deus é o que aprenderemos eternamente a conhecer. É, por conseguinte, o que
nunca saberemos.
O domínio do mistério é um campo aberto às conquistas da inteligência. Pode-se
andar nele com audácia, nunca se reduzirá sua extensão, mudar-se-á somente de
horizontes. Todo saber é o sonho do impossível, mas ai de quem não ousa
aprender tudo e não sabe que, para saber alguma coisa, é preciso resignar-se-a
estudar sempre!
Dizem que para bem aprender é preciso esquecer várias vezes. O mundo seguiu
esse método. Tudo o que se questiona em nossos dias havia sido resolvido pelos
antigos; anteriores a nossos anais, suas soluções escritas em hieróglifos não
tinham mais sentido para nós; um homem reencontrou sua chave, abriu as
necrópoles da ciência antiga e deu a seu século todo um mundo de teoremas
esquecidos, de sínteses simples e sublimes como a natureza, irradiando sempre
unidade e multiplicando-se como números, com proporções tão exatas quanto o
conhecimento demonstra e revela o desconhecido. Compreender essa ciência é
ver Deus. O autor deste livro, ao terminar sua obra, acreditará tê-lo demonstrado.
Depois, quando tiverdes visto Deus, o hierofante vos dirá: Virai-vos e, na sombra
que projetais na presença desse sol das inteligências, ele fará aparecer o Diabo, o
fantasma negro que vedes quando não olhais para Deus e quando acreditais ter
preenchido o céu com vossa sombra, porque os vapores da terra parecem tê-la
feito crescer ao subir.
Pôr de acordo, na ordem religiosa, a ciência com a revelação e a razão com a fé,
demonstrar em filosofia os princípios absolutos que conciliam todas as antinomias,
revelar enfim o equilíbrio universal das forças naturais, tal é a tripla finalidade
desta obra, que será, por conseguinte, dividida em três partes.
Mostraremos a verdadeira religião com caracteres tais que ninguém, crente ou
não, poderá desconhecê-la, será o absoluto em matéria de religião.
Estabeleceremos, em filosofia, os caracteres imutáveis dessa
verdade,
que é, em
ciência,
realidade,
em julgamento,
razão
e, em moral,
justiça.
Enfim, faremos
conhecer estas leis da natureza cujo equilíbrio é o sustento e mostraremos o
quanto são vãs as fantasias de nossa imaginação diante das realidades fecundas
do movimento e da vida. Convidaremos também os grandes poetas do futuro para
refazerem a divina comédia, não mais de acordo com os sonhos do homem, mas
segundo as matemáticas de Deus.
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Mistério dos outros mundos, forças ocultas, revelações estranhas, doenças
misteriosas, faculdades excepcionais, espíritos, aparições, paradoxos mágicos,
arcanos herméticos, diremos tudo e explicaremos tudo. Quem pois nos deu esse
poder? Não tememos revelá-lo a nossos leitores.
Existe um alfabeto oculto e sagrado que os hebreus atribuem a Henoch, os
egípcios a Tot ou a Mercúrio Trismegisto, os gregos a Cadmo e a Palamédio.
Esse alfabeto, conhecido pelos pitagóricos, compõe-se de idéias absolutas ligadas
a signos e a números e realiza, por suas combinações, as matemáticas do
pensamento. Salomão havia representado esse alfabeto por setenta e dois nomes
escritos em trinta e seis talismãs e é o que os iniciados do Oriente denominam
ainda de as pequenas chaves ou clavículas de Salomão. Essas chaves são
descritas e seu uso é explicado num livro cujo dogma tradicional remonta ao
patriarca Abraão, é
o Sepher Yétsirah,
e, com a inteligência do
Sepher Yétsirah,
penetra-se o sentido oculto do
Zohar,
o grande livro dogmático da Cabala dos
hebreus. As clavículas de Salomão, esquecidas com o tempo e que se dizia
estarem perdidas, nós as encontramos, e abrimos sem dificuldade todas as portas
dos antigos santuários, onde a verdade absoluta parecia dormir, sempre jovem e
sempre bela, como aquela princesa de um conto infantil que espera durante um
século de sono o esposo que deve despertá-la.
Depois de nosso livro, ainda haverá mistérios, mas mais alto e mais longe nas
profundezas infinitas. Esta publicação é uma luz ou uma loucura, uma mistificação
ou um monumento. Lede, refleti e julgai.
Primeira Parte
Mistérios Religiosos
Problemas a resolver
I. Demonstrar de uma maneira certa e absoluta a existência de um Deus e dela
dar uma idéia satisfatória para todos os espíritos.
II. Estabelecer a existência de uma verdadeira religião de maneira a torná-la
incontestável.
III. Indicar o alcance e a razão de ser de todos os mistérios da religião única,
verdadeira e universal.
IV. Transformar as objeções da filosofia em argumentos favoráveis à verdadeira
religião.
V. Traçar o limite entre a religião e a superstição e dar a razão dos milagres e dos
prodígios.
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Considerações preliminares
Quando o conde Joseph de Maistre, este grande lógico apaixonado, disse com
desespero: O mundo está sem religião, assemelhou-se àqueles que dizem
temerariamente: Deus não existe.
O mundo, com efeito, está sem a religião do conde Joseph de Maistre, assim
como é provável que Deus, tal qual o concebe a maioria dos ateus, não exista.
A religião é uma idéia apoiada num fato constante e universal; a humanidade é
religiosa: a palavra religião tem, portanto, um sentido necessário e absoluto. A
própria natureza consagra a idéia que representa essa palavra e a eleva à altura
de um princípio.
A necessidade de crer liga-se estreitamente à necessidade de amar: é por isso
que as almas têm necessidade de comungar com as mesmas esperanças e com o
mesmo amor. As crenças isoladas não passam de dúvidas: é o laço da confiança
mútua que faz a religião ao criar a fé.
A fé não se inventa, não se impõe, não se estabelece por convicção política;
manifesta-se, como a vida, com uma espécie de fatalidade. O mesmo poder que
dirige os fenômenos da natureza estende e limita, além de todas as previsões
humanas, o domínio sobrenatural da fé. Não se imaginam as revelações, elas se
impõem, e nelas se crê. Por mais que o espírito proteste contra as obscuridades
do dogma, está subjugado pela atração dessas mesmas obscuridades, e
freqüentemente o mais indócil dos pensadores coraria em aceitar o título de
homem sem religião.
A religião ocupa um espaço bem maior entre as realidades da vida do que
pretendem crer aqueles que dispensam a religião ou que têm a pretensão de
dispensá-la. Tudo o que eleva o homem acima do animal, o amor moral, a
abnegação, a honra são sentimentos essencialmente religiosos. O culto da pátria
e do lar, a religião do juramento e das lembranças são coisas que a humanidade
jamais abjurará sem se degradar completamente, e que não saberiam existir sem
a crença em alguma coisa maior do que a vida mortal, com todas as suas
vissicitudes, suas ignorâncias e suas misérias.
Se a perda eterna no nada tivesse de ser o resultado de todas as nossas
aspirações às coisas sublimes que sentimos serem eternas, a fruição do presente,
o esquecimento do passado e a displicência para com o futuro seriam nossos
únicos deveres, e seria rigorosamente verdadeiro dizer, com um sofista célebre,
que o homem que pensa é um animal degradado.
Por isso, de todas as paixões humanas, a paixão religiosa é a mais poderosa e a
mais vivaz. Produz-se seja pela afirmação seja pela negação, com igual
fanatismo, uns afirmando com obstinação o deus que fizeram à sua imagem,
outros negando Deus com temeridade, como se tivessem podido compreender e
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